O VAMPIRO DO DIA - Capítulo 6 – SANTELMO. O LOBISOMEM. AS LENDAS.
No dia seguinte, logo que o sol apareceu abri a janela do meu quarto para olhar o dia. Realmente parecia que ia fazer um lindo dia. Apesar de cedo, o sol já fazia um convite especial para ativar o ânimo e os meus sentidos. Como sempre, vivo buscando por novos achados para continuar fazendo o que mais gosto. Escrever com o sentimento das palavras e delas procurando falar pelos escritos. São ideais e valores que sobrelevam os meus pensamentos que sempre estão de bem para continuar escrevendo. Talvez por isso vejo a dedicação desse trabalho com uma performance tão especial.
Decidi não demorar a sair e cantando uma linda canção dos tempos de criança fui tomar banho. Cantava bem alto e feliz, se essa rua... se essa rua fosse minha. Eu mandava... eu mandava ladrilhar... com pedrinha... com pedrinhas de brilhantes... para ver... para ver o meu amor passar. Nessa rua tem um anjo...que se chama...que se chama solidão. E assim terminei o banho ávido para começar um novo dia.
Desci pelas escadas, porque o elevador estava demorando, afinal dois andares logo desce. Pensei como falando alto, não posso atrasar, pois marquei com Joaquim Salgado na Biblioteca Municipal. Lá teremos uma reunião para logo em seguida começar outro dia diferente. Respirei bem fundo e disse que dia lindo! As energias pareciam que estavam penetrando no meu corpo tomando conta de mim.
Um pensamento me deixava um tanto animado de forma um tanto diferente. Parecia que algo estava captando de forma não comum. Coisas que para mim são comuns e transparentes às vezes me assustam. Muitas vezes assisto por uma tela do meu pensamento o que tenho de fazer, seja rotina ou não. Gosto de movimentos, de mudanças sempre buscando novos conhecimentos e novas sintonias das descobertas de fatos novos. Sempre para somar e construir. Às vezes pareço que falo por telepatia, como achando que falo e escrevo como alguém me dizendo nos meus sentidos. Talvez, seja a minha criatividade que sempre foi demais aguçada. Apesar de ter certeza que esse traço sempre me ajudou. Talvez por isso vejo sempre na sintonia do melhor.
Cheguei afinal ao destino e logo vi o meu amigo Joaquim. Sorridente e bastante descontraído levava nas mãos um chapéu de palha. Carregava uma pasta do lado e com a outra mão segurava alguns papéis como recortes de jornal e umas anotações que teria rabiscado. Nos sentamos e ele começou a falar. Hoje vai ser um pouco diferente.
Vamos começar do zero, tentando descobrir o que puder fazendo até investigações se possível. Vamos recordar de onde ficamos.
Eu resolvi fazer a primeira pergunta a Joaquim Salgado:
- O que significa a Igreja do Corpo Santo?
- Joaquim logo respondeu. Na verdade, foi uma antiga matriz que existia nesta cidade. Ele falou que essa denominada igreja teria sido uma linda construção. E parecendo um filme, parecia que eu via a igreja por um túnel do tempo. Uma rua estreita de chão de pedra que dava lugar no final da rua a uma famosa Matriz denominada de Corpo Santo.
Cheguei a falar assim para Joaquim e ele olhou para mim admirado e disse: você já leu algo sobre essa matriz? Eu de imediato falei não ainda, mas talvez seja à vontade de tanto querer saber, que já me sinto dentro da história. Joaquim deu um sorriso um tanto curioso e afirmou, cuidado não vá muito longe para não se assustar. De repente, fiquei ainda mais curioso.
Joaquim falou, que a tal igreja, tinha no local da sua construção uma antiga ermida denominada Santelmo, dizendo que provavelmente veio de uma cidade distante. Indaguei a Joaquim ainda:
- Você sabe me dizer o que significa Santelmo? Ele me respondeu.
- Santelmo é Santo Elmo. Que no tempo bastante antigo, se falava que teria sido trazida a imagem de terras portuguesas. Que provavelmente veio de algumas das ilhas próximas da região maltesa ou até mesmo da Ilha de Malta. Antecedentes e historiadores antigos às vezes discutiam e discordavam de opinião.
E Joaquim começou a ler umas anotações que tinha feito. E disse: Que a Ilha de Malta foi doada pelo Imperador Carlos V à Ordem dos Hospitalários no ano de 1530, após a expulsão dos Rodes pelos Turcos Otomanos. Que para a vigiar os pontos extremos e adjacentes, tinha uma torre, que era protegida por Santo Elmo.
Que essa imagem aqui ficou reverenciada porque protegia os pescadores quando iam ao mar para pescar, porque acalmava a fúria do mar. Que naquele local ficou por muitos anos e era sempre respeitada por todos os religiosos da época.
Que muitas histórias e lendas já foram contadas que deixavam pessoas até assustadas ou com medo.
E ainda dizia, que a Matriz de Corpo Santo tinha no local uma antiga ermida de Santelmo, que era chamada de protetor dos pescadores. Ainda, que foi demolida no ano de 1914. Que assim foi feito para dar lugar à ampliação do cais da cidade de Recife. Que diante da modernização dos tempos passou a ser chamado Bairro do Recife.
Que no tempo antigo, ficava localizada nas imediações da atual praça Rio Branco, tendo à sua frente um largo, que tomava o nome de Corpo Santo.
Que no dia 6 de março de 1913, com a presença das irmandades do Sacramento, dos Passos e do Rosário, foi rezada uma Missa, que se comungou naquela ocasião e por fim, o vigário João Augusto, que procedeu o ritual de consumir o SS Sacramento. Que no dia seguinte, seria transferido Santelmo (Santo Elmo), para a Igreja da Madre Deus, ainda hoje existente, na esquina com a Rua Vigário Tenório.
Ainda conta à história, que no ano seguinte, ao som do batuque e do toque metálico das picaretas, a Matriz foi destruída por terra, em conjunto com a rua estreita denominada Rua do Comércio, a rua da Cadeia e o Arco da Conceição, que ficavam numa das cabeceiras da Ponte Sete de Setembro, mais tarde também demolida para dar lugar a atual Ponte Maurício de Nassau.
A rua estreita denominada Rua do Comércio foi palco de muitas histórias. Muitos navegadores que desciam na cidade do Recife buscavam trazer suas iguarias e produtos para vender. Que muitos momentos foram marcados pelo apogeu nas ruas, pelas oportunidades de crescimento promissor, que fez crescer o porto. Daí, ter havido a necessidade de demolir para ampliar os espaços para dar as condições melhores de aporte por novas embarcações.
Foi na Rua do Comércio, que muitas lendas foram contadas, mesmo tendo origens de fora da região. Ficaram e ainda hoje estão impregnadas pelo chão e pelas paredes das suas construções, principalmente as mais antigas.
A Lenda do Lobisomem foi uma que muitas marcas ficaram registradas na região. E Joaquim, de repente sorriu. Eu falava e ele ouvia, mas de repente ele deu uma gargalhada parecia que estava incorporando um ser não terrestre. Abria os olhos bem fortes e começava a fazer uma encenação. Levantava os braços e gritou Uhau! Uhau! Parecia se transformar em um monstro.
Além de ter me assustado, sentia o temor como que se aquilo fosse verdade. Ele dizia bem alto, eu sou o Lobisomem. Passava a gritar e a grunhir. Naquele momento, parecia que estava assistindo um teatro. Que nada, era mesmo uma imagem assustadora. Ele dizia:
- Eu fui atacado por um lobo de noite. Observava a sua voz embargada e contornada por uma expressão feroz, infeliz e revoltada. Parecia que tinha vontade de acalmá-lo, mas não podia conseguir. Ele tinha uma força descomunal. Queria me empurrar e quase caia da cadeira mesmo sentando. Fiquei em pé e pedindo ajuda, gritei socorro! Na verdade nunca teria visto Joaquim assim. Há poucos instantes ele estava tão sereno e como isso pode acontecer? Logo em seguida, se aproximaram duas jovens que pareciam irmãs. E logo depois, um senhor que me perguntou o que está acontecendo? Tudo não parecia normal e muito me deixava assustado.
E foi assim que tudo aconteceu. Vi Joaquim cair no chão transfigurado mesmo, até na cor do seu rosto que ficou bem corado e esquisito. Sentia que os cabelos de Joaquim ficavam arrepiados e quase eletrizados. Como podia aquilo tudo está acontecendo.
De repente um padre passou pelo local, que por sinal já estava cheio de curiosos. Ele caía no chão batendo feito um monstro e muito violento. Parecia quase um animal.
Assim, vi o padre dizer, esse homem foi possuído pelo demônio. O padre começou a rezar uma ave Maria, pedindo para aquele demônio se afastar. Ele grunhia diferente e olhava o padre muito raivoso. Nessa hora vários homens seguravam o quase monstro querendo ajudá-lo. O padre abriu a túnica e retirou de um cinto uma cruz bem grande. E na direção de Joaquim, passou a mostrar dizendo, agora tudo acabou, se afasta em nome de Deus, pelos poderes de Deus sai deste homem. Balançava a cruz para cima e para baixo e na direção da cabeça de Joaquim. Até que finalmente. Joaquim deu um grito diferente e respirou bem profundo, quase sem fôlego, caiu de novo no chão e logo em seguida ficou bem calmo como se nada tivesse acontecido.
Logo pouco tempo depois, Joaquim olhou para o padre, que está aqui acontecendo? Joaquim pediu água para beber. Não sabia o que dizer a Joaquim, de minha parte talvez fosse melhor ficar calado. Mas, o padre começou a dizer tudo como tinha acontecido. O padre disse a mim, no final da tarde, passe lá na igreja que explico melhor. Perguntei ao padre, senhor como é o seu nome? Ele me respondeu, como se não estivesse me ouvido. Somente falou:
- Eu sou daquele vilarejo da cidade antiga. Pensei, talvez seja que a idade fez diminuir a audição. Mas gostei dele, parece uma pessoa muito especial. Pelo olhar que passa parece uma pessoa serena, muito paciente até e de uma convicção religiosa ademais disposta e até corajosa. Ele começou a andar e quase sumindo pela rua fiquei muito curioso para ir até o local onde ele teria falado.
Preferi ajudar a Joaquim que bebia muita água dizendo que estava sentindo muita sede e fome. Disse para Joaquim, por onde estávamos conversando e o que teria ali acontecido. Joaquim sorriu, apesar de um tanto diferente da outra vez anterior. Foi quando pensei, o que será isso? Será que Joaquim é normal? O que pode está acontecendo, porque logo agora que estou tão satisfeito, acontecem essas doideiras! Como explicar e perguntar a Joaquim agora! Ficava estarrecido e ao mesmo tempo achando tudo surpreendente. Mas vou tirar proveito pelo bom sentido. Decidi falar tudo a Joaquim, pelas linhas dos detalhes.
Foi quando Joaquim me disse: quando se vai falar na Lenda do Lobisomem, eu tenho de me benzer. Já aconteceu isso aqui e não foi somente comigo sabia! Conta à lenda do Lobisomem que um homem foi atacado por um lobo em noite de lua cheia e não morreu. Que na verdade o homem adquiriu um poder diferente de se transformar em noite de luz cheia. Que atacava pessoas para sugar o sangue para beber. Logo disse a Joaquim:
- Não acredito nisso Joaquim, isso mesmo sendo uma lenda, sabe que você se apareceu como um lobo! Mas, uma indagação, agora eu posso fazer. O que aconteceu com você foi de dia e não de noite. E Joaquim disse já faz muito tempo que sei disso. São coisas que agente ainda tem que aprender a ver e conviver.
O que mais vale é o nosso trabalho, vamos parar de falar dessas besteiras e continuar. Isso já muitas vezes me atrapalhou sabia! Vamos almoçar para refazer as nossas energias. Estamos com sede e fome e saco vazio não pode ficar em pé.
Saímos caminhando pela rua, assistindo o cenário da paisagem um tanto nublado. Aquele dia lindo ficava meio triste e parecendo que queria chover.
Até que resolvemos parar numa lanchonete que tinha vários tipos de sucos e com tipos variados de alimentos desde frutas, salgados e doces. Começamos a escolher o nosso alimento e o que beber para matar a nossa fome e sede. Preferi naquele instante nada comentar daquilo tudo que teria acontecido antes. Vi Joaquim tomar de líquido naquele instante, quase dois litros. Achei muito mesmo, porque não consigo de uma vez tomar nem um litro.
Joaquim olhou para o meu fio da rua e vendo o mármore lembrou-se falando alto. Olha para esse meu fio da rua, estais vendo que ele é de uma pedra antiga! Sabia que já li que a tal igreja que tinha a ermida de Santo Elmo, que foi demolida se lembra? Ainda tem restos daquela antiga construção, do que foi retirado da demolição e aproveitado como meio-fio no calçamento do bairro do Recife reformado. E finalmente, ainda hoje, pode ser visto por qualquer visitante. Por isso aqui existem tantas impregnadas histórias.
E Joaquim continuava a falar:
- Aqui a devoção de Santelmo é bastante antiga, que data desde a época do início das "Grandes Navegações", quando o Santo, simbolizado no fogo azul, protegia os marinheiros do mar bravo, chamado no estilo antigo de “mar bravio”. Por essa razão, essa foi uma das primeiras igrejas a serem construídas na cidade, tão logo aportaram aqui os colonizadores portugueses. Talvez, os primeiros imigrantes, mas que nunca se achavam imigrantes e sim na verdade quase donos daqui.
Joaquim começou a falar de Hermógenes Viana, que escreveu que o nome do Recife apareceu pela primeira vez no Foral da Câmara de Olinda. Disse que foi outorgada na data de 12 de março de 1537, pelo donatário Duarte Coelho que chamava o nome daqui de Recife dos Navios.
Afirmou Joaquim como muitos elogios sobre os escritos de Hermógenes Viana. Dizendo, que Recife começou a crescer em volta da capelinha de Santelmo. Que foi dito por ele, que depois passou a ser Matriz Santelmo. Que no início, os habitantes do Recife era constituídos por marinheiros, pescadores, comerciantes e até de alguns soldados, por conta do comércio de pau-brasil e do açúcar.
Inclusive, Joaquim disse que no tempo antigo, comentava-se que o pau-brasil daqui era exportado. Falava-se de uma espécie que era única e que se chamava de Pernambuco. Muito utilizada para a confecção de arco de violino e outras peças nobres da época.
Ainda falou que a capelinha num período antigo recebeu o nome de São Frei Pedro Gonçalves. Que depois passou a ser chamada de Santelmo. Que na verdade era um nome popular, de um santo que os marinheiros invocavam durante os temporais em alto mar, para apagar o fogo azulado dos mastros dos navios. Que até esse fogo se chamou também de “fogo de Santelmo”.
Também disse expressando um profundo respeito, que no ano de 1800 a Capelinha de Santelmo foi demolida para a construção da Matriz do Corpo Santo. Depois de mais de cem anos, aproximadamente no ano de 1913, com a construção da atual Av. Marquês de Olinda, a igreja também foi demolida!
Muitas histórias se contam em torno desse antigo tempo. De repente via o olhar de Joaquim parecer entristecer. Então resolvi perguntar a ele:
- Joaquim, por que às vezes quando você fala parece que ficar triste, como se algo um dia tivesse muito bem direto com você e de forma marcante ou marcada?
E Joaquim me disse:
- É porque às vezes parece que aqui dentro tem algo que sempre me cobra e muito. Se desejar mesmo saber, um dia falei isso que eu vou lhe dizer.
Esse chão às vezes treme de dor como pode gritar de euforia e de alegria. Mas, se pudéssemos comparar é claro que pelas histórias do passado tinham mais respostas de dores de tantas lutas para sobreviver. No caso, os fortes contra os fracos e sempre os fracos se submetendo aos poderes dos fortes.
Que as mulheres aqui já muito sofreram, apesar de existir um respeito diferente dos tempos mais modernos, mais antigo em relação aos dias de hoje, considerando o nosso tempo presente do ano de 2510.
Muitas informações, eu passei a anotar e muito bem e de forma cuidadosa. Que aqui já foi berço de muitos emigrantes de outros povos. Que muitos aqui já se refugiaram e não mais puderam voltar a sua cidade origem.
Muitos escravos já foram humilhados e vendidos como se fossem objetos. Muitas vezes, deixando seu filhos e nunca mais os reavendo-os.
Disse uma lenda que aqui muito se falava, que mulher bonita aqui valia muito. Tem uma lenda que fala sobre uma mulher que vivia aqui nas noitadas e que era muito atraente.
Que em situações especiais de festas de ruas desde a época da capelinha de Santelmo, muitas evocações dos santos davam comentários que duravam longo tempo para serem esquecidos.
Que dentro das paredes antigas antes da demolição da Igreja Santelmo, que foram ouvidos gritos de socorro e assombrações pelas ruas que davam na direção do porto. Que essa tal jovem que muitos falavam era filha de um emigrante que morreu muito jovem. Que essa jovem não tinha nenhum parente e teve de sobreviver com todas as dificuldades do tempo.
Que ela teve várias paixões e que tinha tudo que queria. Mas que gastava tudo que conseguisse receber de dinheiro. Que terminou feito uma louca, tendo sido abandonada pelos amigos e amigas da época que desistiram de ajudá-la.
Naquele tempo, era duro viver e sobreviver sozinha e ainda mais sendo uma mulher. E se fosse bonita parece que era pior, pela disputa e porque causava inveja das outras mulheres. Que um dia não se sabia para onde ela foi. Mas depois de mais de vinte anos, voltavam os comentários da mesma mulher naquelas ruas próximas que cruzavam com homens nas noitadas e quando vinham das boemias.
Muitas vezes, cantando em grupos e seguindo como um ritual para fazer serestas e declarações de amor nos coretos. Que por sinal era muito comum. Que era muitas vezes vistas a noite como uma imagem de quase sombra e sem a cabeça. Que se dizia, que muitos homens já foram atacados e jogados no chão, por causa dela. Que um vento soprava frio nas esquinas e se a corrente de vento quente se reunisse, dava até para perceber as gaivotas voando em bando, fazendo a sua dança. Os pombos daquele tempo eram missionários pela presença de levar recados e/ou comunicações. Que em tarde sombrias dos meses de junho por aqui ficava mais agitado e cheio de pessoas andando nas ruas de noite, era mais fácil a encontrar caminhando. Que uns dizia que ela teria sido enforcada. Outros falavam que procurava alguém para se vingar.
Foi quando me deparei com uma lembrança sobre uma história antiga, feita aquela dos tempos das carochinhas. Tem uma lenda que lembra essa história, Joaquim, naquele instante que falava sem hesitar silenciou.
É sobre a Lenda da Emparedada que vamos falar agora. Antes, precisamos ver o conceito de lenda.
As lendas é um episódio de natureza sentimental com elemento maravilhoso, ou sobre-humano, que vai sendo transmitido de pessoa para pessoa e finda conservado na tradição oral e popular. O certo é que também, marca um espaço e tempo onde o fato é descrito. Numa forma letrada, possui características de antiguidade, de continuidade e persistência, a maioria vislumbra o anonimato cujo veículo se faz pela oralidade. Nessas situações, pode ser confundida com o mito. Que na verdade o mito representa um sistema de lendas que gravita ao redor de um tema central com maior amplitude geográfica e sem exigências de fixação no tempo e no espaço.
Afonso Arinos entende lenda como lenda o que vem de ‘ler’, como ‘legenda’ vem do latim ‘legere’. É o que deve ser lido. Era de costume nos conventos e mosteiros, desde os primeiros tempos da era cristã, fazer cada dia, à hora das refeições em comum nos vastos refeitórios, a leitura da vida do santo que dava o nome ao dia.
Daí a razão de chamar-se ‘lenda’ ao trecho a ser lido como reverência especial. A lenda era a biografia dos santos e bem aventurados. No caso, seria como feita, ouvida e criada piedosamente como fossem diárias as leituras e pudessem faltar as biografias. Aos poucos, foram sendo complementadas, compostas ou acrescentadas com as ações que a fé ardente dos autores atribuía aos seus heróis. Eram como respostas que o tempo transfiguravam pelas influências religiosas de grande força a ponto de fazer e deixar marcas.
Não poderia em princípio haver lenda sem sinceridade e simplicidade na expressão da palavra pelo sentimento do coração. Em todos os casos, ainda quando reconhecida depois de fabulosa, a lenda foi sempre na sua origem inspirada e criada de fontes de imaginação. Na verdade, não podia deixar de ser, teria de ser um tanto não realista, como de quem sonha. Todavia, a expressão sempre teria de deduzir aquilo que pode julgar com sinceridade e verdade.
Que uma vez o nome ‘lenda’ se aplicou também por extensão às narrativas, como houvesse algo maravilho e surpreendente. Afinal, a lenda existe em todos os lugares do mundo, onde o homem possa imaginar uma história mesmo não surreal.
Que inclusive, a “lenda” pode ter um fundo essencialmente religioso, por isso também encontrada em quase todas as religiões. Temos até as chamadas lendas cosmogónicas, que são escritas em base de crenças humanas e formando até canções populares do tempo antigo. Muitas lendas formaram músicas, canções populares, cantigas antigas e danças.
Muitas lendas foram contadas encarnando personagens que protagonizaram episódios como o da “Emparedada” da Rua Nova.
Sobre essa lenda, foi muito propagada uma história que uma jovem teria sido enterrada viva pelo seu pai, porque teria ficado grávida. A vergonha que o pai sofreu foi tão grande que a única situação encontrada foi destruir a vida da própria filha e neto. Que por muito anos e séculos, a Rua Nova sofria essa história antiga. Que por muito tempo se falava que se alguém passasse a noite por algumas daquelas casas construídas naquele lugar, ainda via essa jovem andando na noite escura. Era a Lenda da Emparedada. Joaquim, sempre sorria quando falava de mistérios, parecia viver de verdade tudo que contava como se relembrando que estivesse vivendo aquilo tudo de novo.
Outras lendas foram contadas, dizia Joaquim. Cada vez mais atento deveria ficar para ouvir. Ainda vou falar das mortes no cemitério de escravos na Cruz do Patrão, personagens misteriosos que surgiam no Teatro de Santa Isabel e as assombrações do Rio Capibaribe.
No ano de 1561 quando os franceses atacaram Pernambuco, foram expulsos quando ainda tentavam construir um fortim em Recife. Que muito enraivados deixaram uma inscrição numa pedra dizendo: "Le monde va de pis em pis" que significa o mundo vai de mal a pior.
Joaquim também disse:
- Que a imagem da capelinha destruída se encontra na sacristia da Igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo.
Hermógenes Viana cita estes dados a seguir, em um documento da época:
O nome do RECIFE.
Povoação: data de 1561.
Nome Mauricéia: teve essa denominação em 1637 (invasão holandesa).
Vila: Criada pela Carta Régia de 19 de novembro de 1709, instalada em novembro de 1711.
Cidade: Criada pela Carta Imperial de 5 de dezembro de 1823.
Capital: Portaria de 29 de dezembro de 1825.
Para Hermógenes Viana a data de fundação do Recife seria 14 de abril de 1561. Uma vez que a povoação do Recife foi se formando a partir dos marinheiros, dos pescadores, dos comerciantes e de alguns soldados. Que tudo começou em torno da igrejinha de Santelmo, sob a invocação do Corpo Santo. Como a Igreja Católica festeja 14 de abril o mencionado santo, esta seria a data de fundação do Recife.
E foi assim que terminamos o nosso dia, precisamente, apesar de ter ficado bastante preocupado por tudo que aconteceu. Lembrando de alguns assuntos especiais, que precisam ser feitos no dia seguinte. Afinal, não é difícil quando teremos de voltar àquele local para continuarmos o trabalho. Muito preocupado até mais de certo, mas voltarei.
Apesar do susto, não parava para pensar nem se quer um minuto. Pensando alto, fiquei novamente falando como se estivesse perguntando. Até que me lembrei do padre que teria exorcizado Joaquim no momento que estava contando a Lenda do Lobisomem. Imaginar e aprender tudo isso é sinal de boas vindas, por isso quero escrever e muito mais descobrir.
***Foto da Autora***
E Campel
Enviado por E Campel em 12/10/2010
Alterado em 15/10/2010