E Campel
O amor incondicional na visão do iluminismo poético
Meu Diário
28/08/2010 18h45
O VAMPIRO DO DIA - Capítulo 1 - O ENCONTRO
O VAMPIRO DO DIA - Capítulo 1 - O ENCONTRO

Da forma mais reverente um mistério estaria pra acontecer. Seria como acordar no tempo, voltando a um passado de séculos, onde as ruínas não mais estariam presentes. Um dia de muito movimento nas calçadas da Rua do Bom Jesus no Recife Antigo, começava diferente.
 
Muitas pessoas por ali passavam todos os dias. Era o ritmo moderno dos tempos presentes. Que se afrontava pelos tempos passados que estariam a falar na forma das mudanças que iriam acontecer.
 
Um homem mal arrumado puxava uma carroça cheia de restos de papéis, que teria de juntar pra sobreviver. Uma mulher levava uma criança nos braços mostrando o cansaço do peso que carregava. Um senhor idoso parecia não mais querer nem viver, pela distância do olhar que fazia na direção que ainda teria de caminhar.
 
Mas sem nem parar para ver, do lado esquerdo da rua, subia uma figura muito conhecida que vivia fazendo barulho e dizendo histórias antigas daquele lugar. O universo que conspirava diferente abria um grande horizonte, para saber quem seria aquela pessoa.
 
Uma parada era necessária para se poder perguntar.
- Como o senhor se chama?
O homem respondeu de repente. 
- Pode me chamar de doido da rua, mas nada de doido eu tenho! Meu nome é Damião Saldanha do Forte do Lampião. Mas se o senhor quiser me ouvir eu vou poder falar com certeza. São muitas histórias que posso contar.
 
Falava alto dizendo:
- Aqui está um moribundo do dia que de noite se veste diferente.
Assim, ele falava sorrindo de forma até incomum pelo ar sofisticado e com jeito bastante satirizado. Parecia que queria sorrir e de repente franzia a testa provocando a garganta como querendo cantar.
 
Os sinais demonstravam que se lançava numa vida não comum, como convivendo num momento de tantos sofrimentos. Os lábios bastante diferentes pareciam ressecados. A voz mais robusta fazia quase incorporar um personagem, que se vestiria numa história de conto de fantasia ou conto de rua.
 
De tanto desejar saber, fazia mais perguntas aquele homem que parecia estranho.
- Já faz muito tempo que vive assim por aqui?
- E ele falou bem baixinho, que não poderia dizer tudo. Olhava para o outro lado da calçada dizendo, toda essas pedras do piso da rua vieram de onde eu vivia.
 
Falava como querendo relembrar o passado e as vezes de forma contundente. Não sabia o que indagar pelas palavras tão autênticas e seguras, apesar de se atrapalhar também. De repente parecia que começava a dizer uma outra história que seria daquele lugar.
 
Chegou a desenhar no chão dizendo:
- Aqui foi a cidade que um dia encontrei, que era bem diferente de hoje. 

Logo depois parecia que falava recitando uma poesia.
- Que de doido nada tenho, pelas formas de furor.
- Mas o sonho que mais sinto tem a forma de amor.
- Amor por esta terra adorada de tantas estrelas que brilham.
- Que mais desejos eu tenho pra encontrar as saídas?
- Se de dia eu fico dormindo, no outro eu vou desmontar este chão que tanto quero sorrindo.
 
Foi assim que pude perceber que aquele homem teria na voz um talento. Que muitos diziam dele coisas diferentes, chegando a zombar daquele homem da rua.
 
Às vezes, além de moribundo que era passava a ser monstro de corpo presente e vivente. De dia era mendigo dizendo sempre que estava dormindo e de noite era mistério na sombra da mesma noite.
 
Lembrava de uma cidade distante que tinha saudades. Dizia que por isso ele era Saldanha. Que fazia aqui o desmonte na volta daquela euforia.
 
Foi assim que comecei a pensar e a perceber. Aqui tem coisas! Tem muitas histórias que esse homem pode falar. Por que teria de acreditar? Algo chamava a minha curiosidade de conhecê-lo melhor.
 
De repente  algo pairava no ar, uma sensação de um calafrio ou medo. Um tipo de pânico diferente, que dava a impressão que o chão naquele momento estava querendo tremer. Sentia um arrepio e parecia que tudo estava diferente, como se o lugar fosse outro. Em torno daquele homem, que tanto seria mistério tudo podia acontecer.

Pensava apesar de preocupado, quem sabe se tudo isso não vai me levar para novos dias de histórias para escrever! Quem sabe até sonhos, ou contos para encantar a fonte viva que está acesa no ar. Talvez não seja nada, e tudo pode passar somente como fruto de imaginação.
 
Por outro lado, em torno desta realidadede, coisas outras inusitadas eu passava a perceber. E como num piscar de olhos de repente, o homem desaparecia saindo a caminhar pela rua. Olhava de costas até chegar na esquina daquele encontro de outra rua e logo depois sumiu. Mas, amanhã neste mesmo horário estarei aqui novamente, pra encontrar este homem, que prometeu me falar e contar histórias diferentes.


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Publicado por E Campel
em 28/08/2010 às 18h45
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