E Campel
O amor incondicional na visão do iluminismo poético
Textos
O VAMPIRO DO DIA - Capítulo 3 - A SOMBRA E O VULTO

Na manhã do dia seguinte olhei o céu, e motivado pelo brilho que o sol fazia, decidi fazer uma caminhada. Hoje eu vou continuar o meu trabalho. Como costumava dizer: vou para o campo. Esta expressão era usada por mim, quando tive oportunidade de fazer estudos de geologia, antes de ter decidido ser jornalista.

Depois de ter bebido um cafezinho na saída do hotel, comecei a andar olhando o espaço infinito e pensando será que hoje encontro aquele homem? Era como uma pergunta que fazia para o meu interior, dizendo, eu vou encontrar o famoso homem de Saldanha. Uma voz de uma ladainha inspirava o meu interior, como de um ritual de filosofia religiosa, se misturado com conhecimentos novos. Que tinha a sensação que sentia que se chegariam pouco a pouco.

Observava todas as ruas que caminhava na direção da Rua do Bom Jesus, contornos de calçadas, tipo de piso com pedras antigas e outro tipo de asfalto. Entre uma e outra rua daquele lugar, às vezes tinha uma sensação diferente. E continuando a andar, parei para ver algumas pessoas que estavam rezando. Tive curiosidade pelo que mais me chamava atenção. Porque além de rezar também cantavam. Parecia que tinha uma cantoria que elas faziam dizendo algumas frases de um ritual.

Desde então, logo que vi aquelas pessoas caminhando juntas e cantando em oração, achei bastante estranho. Porque seria a primeira vez, que teria presenciado aquela cena, que achava um tanto não comum.

Por isso, resolvi perguntar para onde aquelas pessoas estavam indo, e logo vendo uma senhora com um véu na cabeça indaguei:
- Senhora, pode me dar uma palavra ou um segundo para me ouvir?
- A senhora me olhou, mas nada falava e continuava a rezar naquele couro de vozes.

Continuei seguindo aquelas pessoas e procurando com cuidado, se encontrava uma pessoa melhor para perguntar. Logo depois, me deparei com um ancião, que na verdade era um senhor de cabelos grisalhos e olhos repuxados. Talvez, parecido com um estrangeiro ou descendente de japonês ou chinês.

Então, perguntei aquele homem:
- Senhor me responde, vocês estão indo para onde?

O senhor me respondeu:
- Estamos indo para a igreja.

Voltei a insistir na pergunta:
- Senhor como é o nome da igreja?

De imediato, o senhor disse:
- Igreja da Madre de Deus.

Assim, resolvi seguir aquelas pessoas para ver, onde elas iriam chegar. Atravessaram mais duas ruas, e na direção de um largo, resolveram parar. Logo vi uma igreja, que estava com as portas abertas. Não quis ficar na frente, preferi ficar do lado para observar melhor.

Naquele grupo de pessoas, existia uma aparente união, pelo menos pela sintonia do canto. Passei a pensar, será que hoje é um dia especial? Era a menor pergunta que queria saber a resposta. Mas, nada de saber até então. Acho que hoje não é dia santo e nem feriado, se não eu saberia. Lembrei, quando falei com a recepcionista do hotel, disse a ela que estava indo para o campo trabalhar e ela não disse nada. Se fosse um dia santo teria me falado. Apesar, de poder passar despercebido, porque estaria naquele local convivendo, praticamente morando, há mais ou menos três meses.

Não preferi entrar logo que cheguei ao local. Esperei as pessoas entrarem, até pela educação e respeito. Achava que expressavam um olhar sereno, mas um tanto triste. Verifiquei que do lado interior daquele ambiente, existia mais de um altar de santo, aliás, como existe em quase todas as igrejas. Mas, o que mais me impressionava era que não via nenhuma pessoa daquela congregação religiosa. Parecia que as pessoas esperavam alguém; pode ser um padre! Inclusive, porque algumas mulheres olhavam para a direção da rua, como se estivessem esperando alguém.

Decidi entrar e procurar ficar num ponto de visão ideal, para observar melhor. Foi então, que vi um sacristão entrar, levando alguns vestuários próprios e outros objetos na mão. Vi que a igreja era muito bonita, tinha uma estrutura que me chamou a atenção. Primeiro pela grande quantidade de imagens de anjos. Também, pela riqueza de desenhos feitos com contornos da cor de ouro, com uma obra de tradição e de estilo barroco. Admirei muito do altar – mor, que mesmo estando não perto fiquei muito impressionado. Pensei, será que poderia fazer algumas fotos deste lugar tão bonito, me indagava sozinho. Pelo menos agora eu não devo.

Também, observei algumas pessoas falando e dizendo:
- Que naquele instante ia ser celebrada uma missa.

Foi assim que descobri que naquele dia, todos estariam naquele local, para assistir uma missa. Interesse que percebi, que era pela lembrança saudosa de um morador daquele lugar.

Quem será essa pessoa, queria saber! Mas, não tinha condições de falar porque todos estavam bastante atentos, como esperando alguém.

De repente vi uma sombra passando e quando pensava que era o padre não era, era mesmo uma sombra ou vulto. Cheguei a pensar, eu acho que aqui tem também coisas estranhas, será? Olhei na direção de uma parede de cor branca, mais com contornos circulares muito bonitos, que logo comecei a admirar.

Até que finalmente, vi um padre se dirigindo ao centro da igreja. E logo em seguida, começou a falar com os fiéis. Achei muito bonita a forma de como o religioso se comunicar. Aquele mensageiro de fé talvez tivesse uma missão muito mesmo especial. Porque ele ensinava por palavras, lendo o texto da Bíblia sagrada. Também, às vezes falava como se estivesse querendo fazer algumas informações de datas e alguns acontecimentos ou fatos religiosos. Recordo que falou sobre uma campanha de caridade, pedindo a Deus a proteção da paz no mundo. Fiquei até sensibilizado, pelo carisma daquele padre. Principalmente, pela forma de fazer a pregação do texto escrito e do roteiro daquele ritual sagrado. Do olhar talvez que às vezes parecia falar muito profundo. O nome dele ainda não sabia, mas tinha vontade já de perguntar. Esperava somente a oportunidade.

Logo depois, comecei a pensar. Quem seria a pessoa que eles tanto estavam sentindo falta ou saudade! Perguntava a mim mesmo e respondia. Deve ser uma pessoa muito importante desse lugar. Pelo menos era o que dava pra entender até então.

E depois de todo o ritual inicial da missa, foi falado enfim, o nome das pessoas aniversariantes daquele mês, dizendo parabéns e aos familiares inclusive. Alguns nascimentos também foram lembrados, com palavras de boas vindas e de proteção especial de Deus. Até que chegou o momento tão esperado por mim, quando mencionou alguns falecimentos e em especial, foi dito o nome do ancião que deixava uma grande saudade. Escutei,  que ele era descendente de um dos antigos fundadores daquela cidade, denominada Recife. De repente fiquei arrepiado dos pés até a cabeça e pensei logo; será que foi o tal Saldanha que morreu! De imediato mudei de pensamento. Acho que não, ele não seria tão famoso assim, pelo menos eu penso.

Fiquei numa ansiedade acreditando que poderia ser ele mesmo. Não sabia a quem fazer uma pergunta mais apropriada. Preferi andar já que estava ficando um pouco frio, como todo mês de junho. Até porque sobre o clima daquele local, eu já sabia. Até agosto, deve ser frio e tem fortes ventos. Somente depois de setembro começa a melhorar o clima e o calor chegar. Que naquele local praticamente somente existem duas estações, inverno e verão. Porque a primavera e o outono quase não se diferenciam.

Logo em seguida, as pessoas começaram a se dispersar e quando achava que estava sozinho, sentia a presença de alguém junto de mim. Olhei para o lado e sentia que alguém me seguia. Comecei a ficar curioso apesar de sentir até medo, talvez pelo vento que batia no meu rosto. Por outro lado, porque estava perto da esquina de uma rua, que se confrontava com mais duas vias de acessos.

Atravessei a rua e pensei, acho que estou um pouco impressionado talvez. Afinal, nunca fui assim sempre tive muita coragem. Preferi pensar relembrando do antigo tempo de estudante. Quando realizava trabalhos de campo que sentia muita vibração e paixão de fazer. Quantas ruínas, restos de afloramentos e lugares sóbrios e antigos. De terrenos recentes da Era Quaternária. Lembrei sobre os achados de preguiças gigantes. Como também das grutas, das cavernas escuras e das stalactites, stalagmites e dos fósseis antigos. Recordei até de uma aula, que o meu professor ensinou; falando dos sedimentos que foram transportados de uma época mais antiga para lugares menos antigos, por acomodações de camadas de rochas sedimentares. Preferi procurar pensar coisas diferentes, talvez para me afastar do que teria acabado de sentir.

Mas de repente, tomei um susto, algo pisava forte no chão e parecia com um animal de grande peso. Imaginei eu acho que estou sonhando, não estou acordado de verdade. Era um grunhido que ouvia, dava até medo. Será que é um monstro! Onde eu estou, passei a me perguntar.

Nada disso, uma calçada bastante estreita se aproximava de mim, resolvi atravessar a rua para ver se aquilo passava. Percebi que alguém me seguia e assim atravessava a rua também. Senti nessa hora uma vontade de correr, mas disse eu não vou correr.

Olhei para o lado contrário e vi um portão de ferro que parecia fechado, pensei, vou entrar. Será que esse portão se abre. Tentei abrir e não consegui. Segui pela outra rampa de calçada que dava para uma porta escura de madeira. Pensei. Que lugar é esse! Parece também com uma igreja, mas não é. Muito estranho, estou achando tudo isso.

Até que observei que tinha duas pessoas do lado de dentro e perguntei:
Será que posso entrar?

As pessoas não pareciam me ouvir. Resolvi empurrar aquela porta de madeira para poder entrar. Confesso que não sentia medo, somente queria ver se alguém se aproximava, talvez para responder o que eu queria saber.

A rua estava ficando um pouco escura apesar de ainda ser de dia. Era realmente o clima, além do aspecto um tanto de nuvens de chuva. Parecia que queria chover. Olhei para direção daquele céu que de azul começava a ficar mesmo cinzento e bastante nebuloso. De repente pensei, estou ficando impressionado com este lugar cada vez mais.

Tem hora que penso que estou fora da terra nesse lugar. Aqui tem mesmo coisas estranhas, pelo menos agora fico mais acreditando. De repente percebi que alguém que me seguia ficava mais longe, eu via voando o mesmo pássaro grande daquele dia que conversei com Saldanha. Aliás, que parece que existem muitos pássaros por aquele local. Que às vezes voam em bandos.

Achei também muitas coincidências pelas lembranças do sonho que teria tido a dois dias atrás. Passei a respirar fundo sentindo a vontade de beber água. Procurei dos dois lados da rua e não via ninguém. De repente aquele local ficava quase uma miragem de uma visão um tanto anormal. Era talvez o cansaço que começava a sentir, então pensei. Eu vou é sair desse local, mas não conseguia porque parecia que caminhava contrário. Achava que cada vez mais que andava estava me afastando da direção da rua de onde estava morando.

Até que avistei uma praça cheia de árvores. De cada lado sentia se aproximar de mim uma força gigante. Como quase se formando um clone de ventos circulares. Era um desfiladeiro que conseguia enxergar, que muito achava maluco. Pensei, como pode naquele local existir uma região de precipício. Se aqui nem se quer ter morros ou penhascos. Tudo isso era como uma ficção de um sonho ou de um filme. Talvez era o ar do local muito diferente.

Logo a seguir sentia de novo que estava sendo seguido. Resolvi andar bem rápido, como de repente pudesse escapar daquele medo que me seguia. Somente percebia que em vez de mais perto estava vindo mais longe, como se estivesse querendo me ver a distância. Talvez, desejasse me seguir para ver até onde eu deveria ir.

Foi de repente que vi um clarão no céu, parecia passar por mim um objeto circular numa velocidade muito grande. Será que é verdade! Que vejo um objeto estranho agora no céu! A velocidade era tão grande que ao passar me deslocou do local, como sacudido pela força do deslocamento. Foi então que entendi que estava vendo talvez um disco voador. Era bastante nublado aquele céu. Talvez pela sombra que fazia já escurecendo podia melhor perceber. Que achava assim, mas às vezes pensava que estava sonhando.

Existia uma confusão no meu pensamento. Se de um lado pensava em escrever e encontrar Saldanha. Do outro ficava vivendo momentos naquele lugar bastante diferente do comum. Depois era seguido por um vulto que às vezes era uma sombra. Que por vezes achava que pisava muito forte e pesado e nem sei dizer. Até que afinal, quem seria o homem que morreu e era descendente de um dos fundadores daquele local. Afinal, pela história que estou convivendo eu acho que vai dar um livro de cinema.

Por mais que quisesse esquecer daquilo tudo, não conseguia. Porque a poeira começava a subir. Era uma onda de vento se misturando com a nebulosidade daquela nave. Que começava a parar no centro da praça por onde eu teria passado.

Não conseguia ver bem pela distância e da falta de luz naquele local bastante nublado. Preferi correr sentindo agora um verdadeiro medo. De tanto correr, enquanto estava olhando para trás, para ver se alguém me seguia, me deparei com uma cadeira que estava junto de mim. Assim recordo que estava já entrando no hotel.

Assim, decidi escrever tudo que teria vivido para não esquecer de nada. De repente, poderia ser um novo começo de dia, no próximo dia da minha caminhada ou aventura, para encontrar o homem de Saldanha. Se eu ficar impressionado não posso fazer nada. Eu tenho de continuar amanhã, mas vou começar diferente. Vou primeiro fazer uma pesquisa, talvez procurar alguém para andar comigo. Quem sabe será melhor, talvez um guia!Também, preciso saber sobre a possibilidade, se naquele local tem notícias de disco voador! Nunca soube de nada. Também, quem foi que morreu naquele local? São muitas perguntas que preciso amanhã pensar para começar diferente a minha caminhada de trabalho.

Que afinal, esse campo fica diferente mesmo, mas terei de descobrir. Eu sei que para concluir com os meus escritos que comecei terei de insistir e persistir até o fim. Também, sei que não desisto e somente depois que tudo descobrir ficarei feliz. A paciência é a maior prova para transportar todas as montanhas. Afinal, é a maior grande mestre da sabedoria. Que muito ensina, que sem a ansiedade tudo fica melhor. Por isso, os conteúdos que mais fazem as obras são aqueles das vozes do tempo. Nem o próprio tempo pode mudá-los.

Recordo que avistei os degraus das escadas que davam para o meu quarto do hotel e pensei até que fim. Cheguei para o meu descanso apesar de muito assustado e cheio de perguntas sem respostas. Amanhã será um outro dia. Nunca desisto mesmo, nem penso nesta palavra. De novo tudo pode começar de repente. Sentia uma impressão de alívio, por ter sentido que estava agora protegido em outro local. 

Amanhã será um outro dia e voltarei para continuar o meu desafio. Eu sinto que vou descobrir todos os segredos, nada fica despercebido por mim. Se eu quero investigar é porque faz parte do meu trabalho.  Afinal aquela sombra era mesmo um vulto. Comecei a pensar então: De quem? E de onde seria aquele objeto voador? Eu sei que é muito comum por aqui. Eu vou descobrir e escrever.


***Foto da Autora***

E Campel
Enviado por E Campel em 16/08/2010
Alterado em 28/08/2010
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